domingo, 14 de julho de 2013

Adam Smith e a medicina no Brasil

Em 1776 Adam Smith escreveu aquilo que veio a ser a Bíblia da economia moderna. A Riqueza das Nações. Adam Smith era filósofo e economista. Talvez por isso sua obra seja tão aplicada às ciências humanas. Diferente do que parecem querer as universidades.

A teoria contida no livro A Riqueza das Nações é tão importante para as relações humanas, que deveria ser ensinada nas escolas primarias e não como uma teoria exata, somente vista nos cursos de economia e correlatos. Eu pretendo ensina-la a minhas filhas o quanto antes.

A grossíssimo modo, Adam Smith nos diz que o mercado tende a se equilibrar naturalmente através de uma mão invisível que se move através da relação de oferta e procura. Pronto. Os desdobramentos dessa afirmativa são tão grandes, que talvez por isso estejam tão restritos. As inovações tecnológicas, a busca pela cura de doenças e até o bem-estar social são frutos da competição para se ter uma oferta maior do que a procura.

Percebam o que ele diz: “não é da benevolência do padeiro, do açougueiro, ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu “auto-interesse”. Se analisarmos direitinho essas assertivas e trouxermos para a nossa realidade (lembre que isso foi escrito no século XVIII) teremos um patamar tão confortável frente as desventuras da vida, que mesmo que você não possa fazer nada, pelo menos você vai entender porque está levando no cu.

No caso dos médicos, por exemplo. Eles são caros porque a oferta deles é muito menor do que a procura e quanto maior for a sua necessidade, mais você vai estar disposto a pagar.

O Brasil formou, durante anos, menos médicos do que necessitava. Por falta de investimento, ou por pouca valorização dos professores, não vem ao caso agora. O fato que é que há uma lacuna abissal entre a demanda e a oferta de médicos no Brasil. Logo, o cara que se forma tem o direito de escolher onde ele quer trabalhar. Veja bem, se eu posso trabalhar do lado da minha casa ganhando 20.000 dinheiros, porque eu trabalharia no outro lado do planeta pra ganhar $ 5.000? Não faz sentido. Seria de uma burrice incompatível com a pessoa que levou 6 anos estudando até sangrar o olho.

Um médico brasileiro tem dois méritos. Um, soube escolher uma profissão de oferta defasada e dois, teve aptidão pra ela. O resto é mercado.

Adam Smith defende ainda que o governo não deve intervir nas relações de mercado. Se o fizer, que faça o mínimo. E é exatamente isso que dona Dilma está fazendo belissimamente, se me permitem. Dando um leve toque na mão invisível. Seria burrice aumentar mais ainda o salário de um médico no interior. Isso seria ela influindo diretamente em uma hipervalorização de um bem. Até porque, se for pagar o que um médico acha confortável pra ir trabalhar no interior, só teria dinheiro lá pra uma cadeira e um estetoscópio. Espera! Isso já está acontecendo.

Ao contrário de mexer no preço, D. Dilma está trabalhando a oferta. Fazendo a oferta crescer, o preço final vai cair e o “auto interesse” vai fazer com que o serviço melhore e o bem estar social se instale. Isso, meus queridos, é inteligência.

Eu sempre fui a favor de uma contrapartida social para os médicos que saem de escolas públicas (nunca das particulares, quem está pagando faz do seu dinheiro o que quiser). Apenas porque isso é uma necessidade social. Nunca entendi a conta do governo. Investe-se milhares de reais para formar um profissional e depois tem que ficar mendigando que aquele profissional lhe preste um serviço. Sempre achei injusto o cara se formar com dinheiro público, montar um consultório no Itaigara e foda-se se o país está precisando dele em Xique xique.

Mas Pablo, eu pago meus impostos e por isso tenho direito de estudar numa escola pública! Tudo bem, se isso não viesse da mesma pessoa que terceiriza e paga caro por outras necessidades básicas como segurança e saúde.

Mas Pablo, eu fiz/faço residência, mestrado e caralho a quatro! Tudo bem, mas isso está diretamente ligado a um ganho substancial nos seus rendimentos, caso contrário você não faria.

Mas Pablo, eu trabalho salvando vidas! Tudo bem, o lixeiro também, mas o mercado está cheio deles e não é necessário nenhum investimento na profissão.

Mas Pablo, eu trabalho por amor à vida! Esse, particularmente, é o discurso mais cretino que eu conheço, salvo as pessoas que se formaram e foram trabalhar no Médicos sem Fronteiras, ou passar um tempo na Cruz Vermelha.

Portanto, tudo na vida é mercado. Sua vida é condicionada pelo mercado, ou por seu correlato sentimental de beleza ou sexualidade. Se eu conseguir que minhas filhas entendam isso, agregado àquela singela frase de Dr. House: As pessoas mentem, tenho certeza que elas estarão muito mais preparadas pra vida.


Quanto a fazer medicina? Só se elas quiserem muito, porque, pra nossa sorte, a oferta dessa profissão tende a aumentar muito.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Saindo do armário na Era de Aquárius


Eu sou chato eu sei, mas também sou um entusiasta.

Dicotômico talvez, mas quem não é? Opiniões têm esse risco.

Eu tenho, ou tinha uma fé inabalável na raça humana, no homem livre das amarras das
crenças burras, dos dogmas católicos antigos, dos conceitos ultrapassados de certo e
errado. Acreditava que um dia iríamos entrar num mundo em que houvesse apenas
respeito. Concordância, discordância, mas acima de tudo respeito.

Que a vontade do outro fosse a regra.

Quer chupar seu igual? Chupe. Quer que eu te chupe? Não? Então tá. Simples assim. Pra
quem acredita, uma tal era de Aquários.

Mas esses dias, em meio a Felicianos, Joelmas, Danielas e placas que me representam,
ou não, eu tropecei na estrada da confiança. Cai e sentei no chão pra pensar antes de me
levantar.

Pensar, não nas demonstrações de gente que eu considero burra, em prol do racismo e do
preconceito, mas na posição de gente inteligente dizendo que eles não existem.

Não na exaltação das minorias, mas com as maiorias se fantasiando de excluídos.

Não nos competentes comunicadores e interlocutores que usam da tolice alheia pra
manipular a massa, mas nas pessoas interessantes que não vêm isso e se deixam levar.

Não nos formadores de opiniões que eu não concordo, mas nos formadores que não vêm
que o são.

Nem tanto nos incitadores da violência, mas nos que não param pra pensar no que suas
ações podem causar numa coletividade.

É claro que quem nunca pariu sempre acha que dói menos do que parece. Eu fui o pretinho que "incrivelmente" tirava notas boas na infância. Eu preenchi ficha, com foto, pra sair em bloco em Salvador e fui negado. Eu tenho menos de 40 e vi. E poderia dizer aqui que quem não viu não me representa, mas não é o caso.

O caso é que a reparação foi sim o único modo, e que lei é proteção. Independente de você acreditar, ou não, no que aconteceu com as tais minorias há alguns poucos anos atrás.

O caso é que a politicagem, a religião e o crack estão acabando com nosso futuro,
ameaçando nossos filhos e nossas casas. Não os observadores de cabras, ruivos, piriguetes,
ou quem quer que queira viver sua individualidade e debater suas idéias, ou falta delas. Esses, aliás, como quaisquer outros, que saibam estar dentro do conceito de respeito mútuo.

O que mais me assusta, em verdade, é a onda de preconceito ressurgindo sem os pudores que víamos escondidos atrás do muro do “politicamente correto”. Há dias tenho visto
gente se levantando como de um sono difícil, batendo no peito e gritando jargões de
orgulho Hétero (com H maiúsculo), ou de felicidade por ser maioria de alguma coisa. Um
movimento de saída do armário.

Vejo um orgulho tal por fazer parte da massa igualitária, traçada como perfeita pelos
religiosos que me deixa caído no chão. Vejo uma vontade de sair gritando:

- Ei você! Eu sou rica, branca e hétero e você o que é? Sai da minha frente fudido. "Tal qual a Sra. dos absurdos de Paulo Gustavo".

Não sei se a passividade e a tendência do povo brasileiro em levar tudo na graça, vai
Adocicar esse movimento, transformando tudo em uma descaração generalizada. Uma putaria institucionalizada, onde não exista mais politicamente incorreto (o que eu acho ótimo) e vamos voltar a chamar os “afro descendentes” de pretos safados, gays de viadinhos, tudo isso sem maiores mazelas. Ou se vamos partir pra uma guerra santa em que os religiosos ganhem na justiça o direito de apedrejar quem tem tatuagem no antebraço.

De onde vem esse medo?
De onde sempre vem. Da força. Hoje temos no Brasil um grupo tão forte e completo, que no dia que eles quiserem tomar o país, corra! E eu não estou falando do tráfico de drogas dessa vez.

Estou falando de um grupo que tem força financeira, de mídia, política e que se reúne pelo menos uma vez por semana pra treinar e consolidar sua sensação de conjunto. Eles, que antigamente mantinham seus gritos internamente, por se sentirem minoria, hoje sentem que chegou a hora e estão partindo pra cima.

Eles são organizados, poderosos, estão prontos e provam isso quando colocam goela a
baixo da população um urso pra tomar conta do peixe e mostram que ninguém vai fazer
nada contra.

Claro que lá existe gente boa. Em qualquer lugar existe. O meu medo é que o melhor dos
melhores, junto dos piores e bem incitado é pior que o pior. A história prova isso.

A saída seria então se defender? Ir pra guerra?
Não. A saída é ser inteligente. Continuar duvidando e incitando a reflexão.

Sempre achei justo que as pessoas assumissem seus personagens e lutassem pelo seu
direito de viver a vida do jeito que mais lhes convier. E nesse sentido, SIM, aceito que você não ache minha linhagem aceitável, me ache promíscuo, sujo, impuro. Aceito que você não vote em mim e que me olhe com desdém. Aceito.

Mas faça um esforço e aceite minha competência, meus direitos e minha beleza. Fique até com um pouquinho de inveja, eu deixo. Não demonstre, não goste, mas aceite. Me mande pra porra sempre que eu, sem querer, fechar seu carro. Eu também vou mandar você pra casa do caralho quando, por acidente, você passar na poça de lama e me molhar, mas quando nos encontrarmos no elevador, por favor, seja educado e me dê, ou retorne um bom dia.

Em outras palavras, saia do armário, mas saia com educação, respeito e elegância.

Sem mais.
Subscrevo...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Saudade


Ê saudade que dá de vez em quando.