Hoje eu ví, no Porto da Barra, um hippie pra quem dei R$ 15,00 em Itacaré.
Na época, me lembro que cabeça ficou doida:
- Tá maluco? R$ 15 assim sem nada?
- Nada? Ele me deu um anel bacana.
- Isso?
- Vc nunca vai usar isso.
- Eu sei.
- Então pra que vc comprou?
- Eu não comprei. Troquei por um pouquinho da coragem dele...
Eu invejo os hippies. Sério mesmo. Esse em questão chegou do nada. Estávamos tomando uma cerveja na praia da Ribeira, em Itacaré, quando ele chegou.
- E aí Bródher? Curte um artesanato?
- Não, mas senta aí. alheio ao evidente descontentamento de meus sogros.
- Tenho uns colares malucos aqui, feitos com umas castanhas sinistras do rio Amazonas.
- Onde vc conseguiu isso?
- Eu catei quando tive lá.
- Tem quanto tempo isso?
- Sei lá.
- Vc veio de que?
- De Bike até onde a bike aguentou, depois deixei ela de lado e continuei a pé.
- Onde mais vc teve? Tem quanto tempo que vc roda por aí? Como é que vc vive e muitas, muitas outras perguntas. Queria saber como funcionava essa vida que sempre me fascinou.
- Cara, tempo é uma coisa meio louca pra mim. Não me ligo muito. Devo andar há uns 4 anos sem parar. Antes de ter passado um tempo em casa, andei uns 6. Já conheci esse pais todo, vivo do meu artesanato. Junto umas coisas loucas aqui com umas outras alí, amarro com arame e é isso. Trocando experiência saca?
A essa altura meu olho brilhava como hipnotizado por aquilo. Não consigo pensar em nada mais vivo do que conhecer um pais, um mundo, sem nada nas costas, nada seu.
Vc sai de casa e diz: -Até.
Volta depois de 4, 6 anos, barbudo, magro, maltrapilho e rico. Rico de idéias, de experiências, de fotos na cabeça. O cara viu coisas que ninguém nunca viu. Nem vai ver. Não com a ótica dele.
Raciocine: O que é que te move? Vc vive pra que? Por que vc acorda todo dia pra trabalhar?
É impossível que vc saiba responder sem parar pra pensar numa resposta inteligente.
Eu perguntei mais ou menos isso pro cara e ele me respondeu na lata:
- Eu só acordo e vou.
Vc tem idéia do tamanho disso? Vc saber exatamente o que fazer todo dia?
Tá pronto. É só acordar e ir, sem saber bem pra onde, sem saber porque, só pra que.
O mundo é tão grande e tá todo aí pra quem tem coragem de conhecer. Eu não tive, não tenho, ou tenho muito pouca. Logo, conheço pouco. Sou um covarde.
Então como não ter inveja de uma cara que larga tudo e vai conhecer o que der enquanto tem tempo? Sou sim fã de quem bota a vida nas costas e vai fazer o que quer.
Não que eu seja triste, ou frustado. Fiz escolhas. Troquei o mundo pelo meu mundo. Por montar uma família linda e conquistar meus quereres um a um. Na raça. O que também necessita de uma coragem monstra. Dá insegurança, medo, felicidade.
Muita coisa do mundo despreendido e corajoso a gente acaba conseguindo trazer pra perto. Um blog, um par de brincos e uma tatoo, mas uma coisa eu não vou conseguir trazer de lá: O desapego aos rótulos.
No meu mundo existem os ricos, os pobres, os heteros, os gays, os bem sucedidos, os honestos, os mal educados, os burros, os gênios. Os sarados, os cabeças, os coloridos e sei lá mais quais rótulos bbbnianos.
No mundo dos loucos e dos hippies só existe O gente boa e O gente ruim. Parece simples, mas pra mim era só como tudo deveria ser. E como no fundo tudo é.
Acho que na verdade, o que eu gostaria, era de uma vida menos corrida, menos urgente, mais aproveitada, mais vivida. Uma vida sem as exigências idiotas da sociedade, sem os tais rótulos. Com ostentações de menos e viagens de mais, de todo os tipos. Uma vida onde houvessem dois tipos de gente:
Os parceiros e os filhos da puta.
Aos parceiros o acaso.
Aos filhos da puta a ordem.
Sem mais, subscrevo.
13 comentários:
Um dos seus melhores textos, e o melhor que li este ano. Sou seu fã. E queria ter essa coragem também.
E, por melhor do ano, não digo o seu melhor. A coisa melhor e mais construtiva e questionadora que li. No geral.
Tive uma experiencia parecida no final do ano passado. Estavamos eu e duas amigas no terminal esperando um ônibus, quando vimos 3 hippies com artesanatos também. Eles nos chamaram para olhar, e começamos a covnersar com eles. Por coincidencia (ou não) fiz exatamente as mesmas perguntas. Para onde eles já foram, como é a vida deles, de que maneira eles sobrevivem e também me encantei por essa 'liberdade'. Pensei em escrever um post sobre essa situação, mas é muita coisa e nao conegui organizar as informações. Realmente acho que se deve ter apenas (e muita) CORAGEM para passar a viver dessa maneira e admiro muito quem a tem!
Fantástico...
isso explica o sovaco peludo e...
enfim... rsrsrsrs
E, por melhor do ano, não digo o seu melhor. A coisa melhor e mais construtiva e questionadora que li. No geral. (complemento do comentário de Jorge. Não sei porque qdo moderei não foi automáticamente - Injustiça não colocar)
Pablo teu texto retrata muito das minhas inquietudes! Tb queria muito esta coragem dos que não têm âncoras, só a vida para viver. Belo texto, pena que só escreve de caju em caju!bjs.
Sei não, viu Pablo.
Acho que "ver" a vida de um hippie, rapidinho, ali, sentado em nossa praia, enquanto ele "vende" seu estilo de vida, cheio de paz, tranquilidade, liberdade e falta de compromisso, é realmente muito sedutor.
Mas acredito que ele também tenha seus perrengues, seus stresses, sei lá. Pelo leio por aqui, você tem uma puta vida, invejada por muitos hippies.
Falo isso, mas assumo que gostaria de "viver" como um hinponga, pelo menos durante uma semana.
abração
Sexo, drogas e rock'n roll...
Huuuuummmmm
beijo rouge
Dani
Uma vez joguei truco com hippies uruguaios nno meio da calçada de uma avenida, trocamos muita idéia, demos risadas... foi demais !
Além disso, eu sou uma das duas amigas que trocou ideia com os hippies, no comentário da Luana ali em cima. Nós conversamos com eles sobre tudo... a outra amiga nossa até 'casou' com um deles ahahaha (:
E no meio dessa convera animada, percebemos inúmeras afinidades com esses exploradores de estradas. Adquirimos admiração por jovens que desafiam as regras da sociedade, que nos impoe faculdades, empregos e familia, para viver do seu modo... de um modo simples e humilde de viver. E a felicidade que eles tem em serem livres é inexplicavel! Sou uma grande admiradora de hippies.
Eu gosto de ler o que você escreve. Gosto mesmo. =]
Lindo , emocionante !parabens.
A busca de D Quixote pela doce Dulcineia finalmente setá chegando ao final
agora q a encontrou so falta desposa-la
Após anos e anos de busca
lutando contra moinhos de vento e fantasmas imaginarios
D Celsão De La Mancha finalmente encontra sua doce amada Catarina Dulcineia
e após um período de adaptações de olhares e palavras finalmente chega o dia do grande encontro
quando ele a encontrar toma-la-a e juntos seguiram um novo rumo em suas histórias não mais lutando contra gigantes ou moinhos de vento ou contra o sitema ou qualquer que seja a luta
gloriosa ou inglória
mas numa vida à dois onde o amor sempre terá a palvra final
te amo Catarina Villagrand
te amo espanhola teamo espanhola
como posso eu deixar partir aquela me fere a alma com sua distancia?
como posso eu não amar aquela a quem meus olhos viram e no mesmo instante meu coração bateu mais forte em meu peito e uma dor como um punhal do mais puro aço me cortou a alma e meus labios murmuraram, Te Amo
Esta é minha história real.
Parabéns,SENSACIONAL o comentário!
hippies filhos da puta
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