Não naquele dia.
Nenhum avô amou tanto seus netos, nem ensinou tanto. Pelo menos pra mim. Eu tenho tantas histórias dele que fica difícil saber por qual começar, mas vou apostar na surra da laje.
Um belo dia eu aprontei alguma. Claro. Não me lembro qual, mas tenho certeza que foi uma das boas.
Birineu passou a mão no cinto e correu atrás de mim. Eu espertão e no arrojo dos poucos anos, pus sebo nos joelhos, que naquela época funcionavam, pra dar um baile no velho.
Corrí, subí a velha escada de madeira que dava pra laje em três pulos. De lá, joguei a parceira de fuga pra baixo, na esperança que meu perseguidor não subisse atrás de mim.
Acho que eu esperava que meu avô fosse fazer alguma coisa do tipo: Ah que neto esperto eu tenho, subiu na laje e anulou o único jeito possível de realmente fugir e por isso eu não vou bater nele.
Quase isso. Birineu era professor na arte do ensinamento infantil e de baixo gritou:
- Não quer apanhar não? Fazer besteira quis não foi? Pois bem, quando vc quiser apanhar me chama. E saiu. Tem base?
Eu naquela época, cheguei a uma conclusão lógica: Sou fodão. Fugí da surra e ainda tava num lugar massa pra brincar. Aquele dia a laje era minha.
Só esquecí que sem cobertura e no sol, a laje ficava quente , dava sede e com o tempo fome.
Birineu sentado esperrava, esperava...
- Meu avô, quero descer;
- Não pode, pra descer tem que apanhar;
- Então não quero;
- Então tá.
Esperava, espera...
- Meu avô quero descer;
- Não pode, pra descer tem que apanhar;
- Então tá.
- Como fala então?
- Não sei;
- Te ensino; (olha a redenção do professor)
- Meu avô o Sr. pode me bater porque eu fiz coisa errada?
- Meu avô o Sr. pode me bater porque eu fiz coisa errada?
- E que coisa errada vc fez?
Não me lembro a resposta, mas na época eu falei e completei com alguma coisa do tipo: - Então meu avô o Sr. pode me bater agora por favor?
- Posso, peraí que eu vou botar a escada.
birineu foi buscar a escada tentando esconder o riso e eu pensei: Ele ganhou e tá feliz, vai me liberar. Comecei a descer a escada e antes de chegar ao meio, senti a borracha da sandália samurai nas pernas. Tudo bem, pensei. Correr não era mais uma alternativa.
Tomei minhas sandaliadas e depois fui, cansado, beber água e comer . Meu professor tinha deixado mais uma lição.
Nunca fuja por um lugar sem saída, ou alguma coisa mais significativa talvez. Vai saber.
Só sei que nunca consegui esquecer isso, e que se o objetivo era esse, ele conseguiu. Quanto a mim, até hoje, de vez em quando, me pego em cima daquela laje, olhando pra baixo e vendo meu avohai rindo com uma sandália na mão.
Sem mais, subscrevo.
9 comentários:
Queria enrolar o velho, se deu mal. rs rs!
Pois é, mas foi bem legal.
Amei essa história!!! Mas fiquei curiosa com o que você fez, pois no final das contas, além de ter ficado de castigo (cansado da corrida, no sol, sem água e comida), ainda apanhou rsrsrs. Sábio Birineu.
Abraço
Comi, bebí água e fui dormir apanhado. Só isso.
Pô, que massa velho! Me lembrei de varias historias legais aqui agora! Isso é tãão bom =]
Ô Ção! Q post lindo! Uma pena não ter conhecido meu sogro-avô Birineu...
adorei esse post....me lembrei do dia que tive que tomar uma coca cola de 2 litros inteirinha porque fiz manha com minha madrinha...rsrsrs.....era bem assim o diálogo: "tô com sede!" , "tome coca-cola"; "dinda, tô com fome"; "tome coca-cola, vc não queria uma coca só pra vc então vai tomar toda até acabar....".....criança sofre...rsrsrs....
Adorei o post! Lembrar dessas histórias sempre nos faz bem! bjks
Esses textos sempre nos trazem lembranças próprias, né? Será que é só comigo? Haha
muito bom!
beijo
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