sábado, 2 de maio de 2009

Tribos, bolos e reflexões.


Em uma das últimas reuniões de planejamento de evento que participei, falei uma coisa que causou comoção. Disse:
- Essa festa vai atrair muito gay e isso é perigoso.
- Óóóóóóó (foi como se eu tivesse dito que a mãe do patrão era puta. Pescoços quase se quebraram ao virar pra mim).
- Isso foi preconceituosso? (aquele tipo de pergunta afirmação)
- Foi (respondí)
- Vc não me parecia preconceituso.
- Deve ser porque eu não sou.

Explico:

O que eu quis dizer é que toda vez que se faz um evento pra um público muito específico, a chance daquela tribo se sentir atraída é igual a de todas as outras se sentírem repelídas.
É assim com os índios, os gordos, os feios, os albinos ou crentes.
Imagine uma festa destinada ao público acima de 150 kgs. Se vc tem menos do que isso, ou não se identifica com esse público, o que vc vai fazer lá? Por outro lado, se vc chega numa festa e tem 100 pessoas acima de 150kg isso passa despercebido.

Tribos tendem a levantar bandeira e considerar aquela festa, ou aquela casa como sua, porque se sentem a vontade alí. Isso é normal. Não sou contra festas direcionadas, muito menos contra grupos sociais, só acho que se for pra ser direcionada, que seja. Não aceito ser surpreendido por esse, ou aquele nicho de mercado, lotando ou repelindo lotação em alguma empreitada.

Tribos se odeiam em igual proporção ao que se diferem. Ninguém se sente bem em estar num local onde não se sente parte integrante dele.

E por falar em tribos, uma tem me chamado a atenção ultimamente.
Não uma, mas várias que se fundem em uma. A tribos dos bem afortunados. Vips, Ricos e etc.

Os VIPs
A tribo dos Vips é a única que tende a atrair mais do que repulsar outras tribos, ela também tem uma boa tolerância a outros grupos. Vips são cerejas, eles sabem que precisam do bolo pra serem especiais.
São geralmente compostos de artistas, jogadores de futebol e empresários influentes.
São extremamente difícieis. Não pegam fila. Apesar de chegarem religiosamente ao mesmo tempo.
Não suportam atendimento generalista, atendimentos pessoais e exclusivos são indispensáveis.
Consomem muito e não pagam nada, mas atraem mídia, glamour e consequentemente dinheiro, o que justifica sua permanência, ou mesmo passagem pelo evento.

Os Ricos
Se os VIPs são cerejas, os ricos são a cobertura do bolo. Se acham vips, não querem pegar fila e sempre usam o sobrenome de alguém que manda pra se sobressair, são em grande parte arrogantes e amostrados, se sentem diferentes, apesar de usarem por exemplo, as mesmas roupas:

Mulheres:
Se gostosas, roupas de grife curtas, coladas espalhafatosas e combertas de assessórios (piriguetes de luxo);
Se meeiras, roupas de grife, preta, média e com bastante assessórios;
Se barangas roupas de grife preta, comprida e com pouco ou nenhum assessório.

Homens:
Calça jeans de Grife e 3 tipos de camisa: Gola V muito cavada porque tá na moda, Gola Polo com números grandes, porque tá na moda e camisas com imensas gravuras da grife, porque essa nunca sai de moda.

O Bolo
Por último, a tribo do bolo. Querem estar perto dos vips e dos ricos e para isso se sujeitam a ser barrados na porta e esperar um amigo pra conseguir entrar;
Gastam todo dinheiro em roupas pra estar dentro do grupo;
Passam despercebidos e bebem a mesma cerveja a noite toda porque gastaram o dinheiro nas entradas, ou simplesmente porque não podem mesmo pagar uma long neck que custe mais de R$ 5,00.

Juntas, essas tribos formam uma massa consumidora poderosa e atraente, mas acima de tudo uma tribo;
Eventos direcionados a eles devem ser pensados pra eles;
Eles também repulsam outras tribos;
Eles também são perigosos, como os gays, os tocadores de tuba, os síndicos, os sadomasoquistas, ou os racionais do 3º milênio.

Afinal, é isso que as tribos fazem.
Potencializam aquilo que o ser humano é. Pro bem e pro mal depende da conveniência.

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